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Maldição Hereditária: uma mentira com sérias consequências

MOTIVAÇÃO

Meu objetivo com este estudo é buscar entender a origem e a base bíblica utilizada por aqueles que pregam sobre a existência da maldição hereditária. Meu ponto de vista inicial é que esta doutrina é apenas um tipo de misticismo, sendo uma heresia bem séria que tem manipulado fortemente as pessoas, contudo, ao ser confrontado com problemas relacionados a isso em pregações, encontrei-me sem uma profunda base bíblica sobre o assunto e decidi iniciar este estudo.

INTRODUÇÃO

O tema que se tornou mais difundido com o movimento Neopentecostal, se tornou tema de grande divergência dentro das igrejas, em maior parte por falta de entendimento da visão bíblica sobre o assunto. A maldição hereditária se tornou motivação para criação de vários rituais místicos de libertação, “fechar de portas”, rituais de quebra de maldição, entre outros. Este tipo de misticismo nunca é encontrado na Bíblia como sendo algo incentivado por Deus, sendo, na verdade, várias vezes condenado, pois se torna um tipo de idolatria e despreza o sacrifício de Cristo. Mas uma pergunta fica: a maldição hereditária existe? O argumento inicial sobre o misticismo que se ela tornou apenas argumenta contra uma possível distorção do conceito bíblico de maldição hereditária, mas não é um argumento válido contra a existência da mesma. O objetivo deste estudo é, então, definir e entender biblicamente o que seria a maldição hereditária e se ela existe.

DEFINIÇÃO

Maldição Hereditária é também chamada no meio neopentecostal de Maldição de Família ou Pecado de Geração. Esta visão teológica afirma que uma pessoa pode estar sujeita a maldições por ter nascido em determinado local ou família, herdando pecados e maldições dos seus antepassados. Algumas pessoas (como o próprio líder da Igreja Universal, o Bispo Macedo) sugerem que a Maldição Hereditária pode ser um que se transmite de pai para filho, chamados Espíritos Familiares, que são demônios com o único objetivo de afetar famílias. Outros ainda sugerem que este tipo de maldição pode ser transmitida através de bens. É notável, portanto, uma crescente na supersticiosidade relacionada ao tema.
A maldição, segundo a doutrina em questão, opera cegamente atingindo qualquer um ao seu alcance; vai se transmitindo indefinidamente através do tempo, até que um especialista em quebra de maldições a quebre; usa como meio receptor e transmissor um local, um objeto, uma pessoa, uma família, uma cidade, um país etc.…; como uma energia maligna invisível, vai se espalhando [conforme os milhares de "testemunhos" baseados em experiências subjetivas e desmentidas pela Bíblia]. A maldição em certas circunstâncias parece operar por si mesma, como um mal invisível que tem personalidade própria e poder de se autodeterminar; já em outras circunstâncias parece ser uma energia maligna operacionalizada por demônios, que são chamados de "espíritos familiares". Essa maldição tem que ser quebrada pela intervenção humana num ritual que difere de especialista para especialista.
José Laerton
Problemas como alcoolismo, adultério, uso de drogas, violência doméstica, entre outros, são muito associados a este tipo de maldição. Algumas igrejas desenvolveram inúmeras práticas relacionadas com a quebra ou libertação dessas maldições. Estas práticas vão desde seminários e cursos para formar especialistas em quebra de maldição até cultos e ações litúrgicas com exclusivamente este propósito. Algumas igrejas utilizam de práticas como a Confissão Positiva, onde o fiel declara sua libertação da maldição e determina a expulsão do demônio que a está causando. Estas são apenas algumas das formas que esta visão teológica se expressa na igreja. Devido a diversidade de culturas e vários distanciamentos da verdadeira Palavra, muitas misturas de práticas tanto internas na igreja quanto com outras religiões surgem, aumentando a aplicação de superstições e diversificando a forma que elas se expressam.

ORIGEM

O conceito de maldição hereditária foi desenvolvido no final da década de setenta por líderes pentecostais norte-americanos, como Kenneth Hagin. Aqui esse tipo de teologia encontrou terreno fértil, como forma de combater as religiões de origem africana e o espiritismo, bastante populares entre nós.

BASE BÍBLICA

O texto mais utilizado para justificar a visão teológica da Maldição Hereditária está nos 10 Mandamentos (Ex. 20:5-6, Dt. 5:9-10 e Nm. 14:18):
Não farás para ti imagem de escultura, nem semelhança alguma do que há em cima nos céus, nem em baixo na terra, nem nas águas debaixo da terra. Não as adorarás, nem lhes darás culto; porque eu sou o SENHOR, teu Deus, Deus zeloso, que visito a iniquidade dos pais nos filhos até à terceira e quarta geração daqueles que me aborrecem e faço misericórdia até mil gerações daqueles que me amam e guardam os meus mandamentos.
Ex. 20:4-6
Outro texto bastante utilizado é com referência ao Pecado Original, utilizando como justificativa de que se o pecado pôde ser herdado e de geração para geração, então outras coisas também poderiam ser:
Portanto, assim como por um só homem entrou o pecado no mundo, e pelo pecado, a morte, assim também a morte passou a todos os homens porque todos pecaram.
Rm. 5:12
Ainda também é utilizado um trecho que se refere tanto a herança da maldição quanto a necessidade de confessar positivamente a iniquidade dos pais:
Aqueles que dentre vós ficarem serão consumidos pela sua iniquidade nas terras dos vossos inimigos e pela iniquidade de seus pais com eles serão consumidos. Mas, se confessarem a sua iniquidade e a iniquidade de seus pais, na infidelidade que cometeram contra mim, como também confessarem que andaram contrariamente para comigo (...).
Levítico 26:39-40
Todas as vezes que o povo pede perdão pelos pecados dos pais, este pedido ocorre em um contexto onde há uma continuidade na prática dos pecados entre as gerações, ou seja, a geração atual estava cometendo os mesmos pecados de seus pais e o povo, como um todo, se estava se arrependendo dos seus pecados. O texto não está dizendo que os filhos herdam algum tipo de maldição dos pais. Um dos exemplos de aplicação desta recomendação é quando o povo volta do exílio e pede perdão pela apostasia deles e dos seus pais. Eles estavam abandonando naquela geração as práticas das gerações anteriores, e, como comunidade, pediam a Deus por perdão. O capítulo 18 do livro de Ezequiel, que será estudado logo abaixo, interpreta melhor as recomendações de Levítico.

ESTUDO

Logo ao iniciar o estudo sobre o tema e testá-lo na Bíblia, encontramos várias incoerências e facilmente podemos identificar que a visão teológica da Maldição Hereditária é bastante fraca e não embasada biblicamente. Organizarei aqui alguns tópicos e observações que obtive no estudo do tema.

ANÁLISE ÊXODO 20:4-6

O contexto deste trecho do livro de Êxodo é a entrega dos Dez Mandamentos ao povo de Israel, sendo a possível “maldição” uma punição infringida por Deus pelo pecado de idolatria. O versículo 5 se inicia com a ordem de adorar apenas a Deus e logo após justifica a própria ordem, ao dizer “porque eu sou o SENHOR, teu Deus, Deus zeloso”. A justificativa, portanto, para a obediência do mandamento é Deus ser zeloso. Sobre a utilização do termo Zeloso como característica de Deus, a Bíblia de Genebra tem uma nota dizendo que “este termo descreve a paixão pelo seu santo nome, um zelo que exige devoção exclusiva do seu povo”. O versículo continua com “que visito a iniquidade dos pais nos filhos”. Temos, neste trecho, uma forte objeção contra a forma mais comum da pregação da Maldição Hereditária: Deus é quem visita a iniquidade. Entenda-se aqui visitar a iniquidade como punir e julgar. Não é nenhum tipo de herança automática ou demônios que se transmitem na família. Para podermos entender como se fosse aplicável assim, teríamos que dizer que também as mil gerações às quais Deus faz misericórdia também são passadas automaticamente aos filhos. Este argumento fica ainda mais forte quando lemos a continuidade do texto: “até à terceira e quarta geração daqueles que me aborrecem”. A quarta geração aqui referida é a mais longa abrangência de gerações que uma família pode representar de uma só vez. Sendo assim, a maldição não se trata de algo que se arrasta por décadas entre várias gerações, mas sim a punição sobre uma casa. Como naquela época as famílias viviam em formato de clã, a idolatria era normalmente um pecado da família toda, além de que, ainda que não tenham sido todos da casa a cometerem o pecado, as consequências seriam sentidas por eles, mesmo que, como veremos daqui a pouco, os filhos não pagassem pelos pecados dos pais. Por fim Deus faz um contraste da punição com a benção, mostrando que Seu desejo é muito maior de abençoar do que punir: “e faço misericórdia até mil gerações daqueles que me amam e guardam os meus mandamentos”. Para termos uma noção, considerando uma geração como 40 anos (tempo do povo vagando pelo deserto), ainda não se passaram 1000 gerações desde Abraão, pois seriam necessários 40 mil anos.

Concluo a análise com o entendimento de que o texto possui três propósitos:
  • ·         Instrutivo, ao condenar o pecado de idolatria;
  • ·         Legal, ao afirmar que Deus jugará e punirá a iniquidade e que a mesma trará consequências ruins para toda a casa daquele que pratica;
  • ·         Mostrar a misericórdia de Deus, pois Deus demonstra que deseja muito mais abençoar do que punir e que, ao fazer isso, faz de forma muito mais abundante (como acabou se demonstrando no plano da Redenção).


BÍBLIA INTERPRETA BÍBLIA: EZEQUIEL 18

Este é provavelmente o texto mais claro contra a herança dos pecados dos pais pelos filhos. Possui uma interpretação do texto de Levítico que foi estudado há pouco.
Que pensais, vós, os que usais esta parábola sobre a terra de Israel, dizendo: Os pais comeram uvas verdes, e os dentes dos filhos se embotaram? Vivo eu, diz o Senhor DEUS, que nunca mais direis esta parábola em Israel. Eis que todas as almas são minhas; como o é a alma do pai, assim também a alma do filho é minha: a alma que pecar, essa morrerá.
Ezequiel 18:2-4
Vemos que há uma clara condenação à afirmação de que os filhos estavam sofrendo as consequências dos pecados dos pais. Ao dizer “a alma que pecar”, o Senhor está afirmando que o pecado cometido por uma alma pertence apenas a ela e é sua inteira responsabilidade. Não há menção à responsabilidade dos pais ou atuação de demônios.

Logo adiante, começa a ser feita uma descrição das obras do justo. Interessante observar que alguns pecados que são relatados ali, como a imoralidade sexual e roubo são bastante atribuídos como maldição hereditária, ou seja, uma pessoa pode ser adúltera devido a herança de algum espírito herdado de sua família. O texto, porém, atribui a cada um a responsabilidade por seu pecado. Os contrastes ficam ainda mais claros e detalhados quando nos versículos de 10 até 13 é trabalhada a hipótese de um pai justo gerar um filho ímpio. A conclusão é:
(...) porventura viverá? Não viverá. Todas estas abominações ele fez, certamente morrerá; o seu sangue será sobre ele.
Ezequiel 18:13
As hipóteses continuam e é suposto o caso de um pai ímpio gerar um filho que, ao ver os pecados do pai, decide não os cometer. A conclusão é novamente direcionada para que cada um pague pelo que cometeu. O versículo 17 conclui dizendo que “o tal não morrerá pela iniquidade de seu pai; certamente viverá.”

O versículo 19 traz, depois de todas estas afirmações feitas anteriormente, uma pergunta que o povo de Israel faria:
Por que não leva o filho a iniquidade do pai?
Esta pergunta está diretamente relacionada com o mandamento de que Deus amaldiçoaria os descendentes, ou seja, o povo de Israel estava aplicando uma distorção da Palavra para justificar a herança dos pecados, o que é uma forma bastante semelhante ao que a pregação sobre a Maldição Hereditária faz hoje, porém com menos misticismo. A resposta é:
Porque o filho procedeu com retidão e justiça, e guardou todos os meus estatutos, e os praticou, por isso certamente viverá. A alma que pecar, essa morrerá; o filho não levará a iniquidade do pai, nem o pai levará a iniquidade do filho. A justiça do justo ficará sobre ele e a impiedade do ímpio cairá sobre ele. Mas se o ímpio se converter de todos os pecados que cometeu, e guardar todos os meus estatutos, e proceder com retidão e justiça, certamente viverá; não morrerá.
Ezequiel 18:19-21
Temos, então, a Bíblia interpretando a própria Bíblia. Há uma condicional para que Deus visite a iniquidade dos pais nos filhos: os filhos continuarem cometendo os pecados dos pais. Temos uma inversão de causa e consequência agora, pois o motivo do julgamento e maldição de Deus é a permanência no pecado e não a permanência ser a consequência da maldição. O ímpio que se converter será perdoado e sua dívida será esquecida.

O que é muito interessante nesse texto é que Deus se preocupou em detalhadamente explicar e sanar as possíveis dúvidas e distorções de interpretação. Prevendo a afirmação do povo de que o caminho do Senhor não é direito, pois Ele estaria se contradizendo. Deus responde com uma acusação em forma de pergunta: “Não são os vossos caminhos tortuosos? ”. Os pecados que eles estavam recebendo a justiça eram os pecados deles, não dos seus pais. Cada um morre na iniquidade que comete.

Essa análise mostra como a própria Bíblia toma o cuidado de refutar a ideia de algum tipo de maldição hereditária. Ainda que eu sugira uma leitura inteira do capítulo para que outros pontos como arrependimento e conversão sejam melhor apreciados, o que demonstrei aqui é que não há uma herança dos pecados e atos dos pais em forma de maldição.

DEMÔNIOS?

A Maldição Hereditária é definida por grande parte dos seus defensores como um tipo de sucessão demoníaca, onde demônios podem passar de pai para filho e aplicando maldição nos mesmos. Alguns até afirmam a existência de espíritos familiares, baseados em uma má tradução de uma versão da Bíblia King James, que teve a palavra necromantes traduzida para espíritos familiares. Este entendimento vai diretamente contra o ensino claro das escrituras de que a punição é aplicada por Deus e que até mesmo os espíritos malignos estão sob Sua soberania, como no caso dos espíritos que atormentavam o rei Saul. A utilização de demônios e libertação não passa da inserção de superstições e manipulações de massa das pessoas, pois não possui base bíblica, já que o executor da justiça é o próprio Deus e ela pertence somente a Ele. Compreender melhor a demonologia exigiria um estudo mais aprofundado, que não é o propósito deste estudo.

RITUAIS

Durante minha pesquisa sobre as práticas relacionadas com a crença na Maldição Hereditária, encontrei vários rituais de libertação. Estes rituais podem ser cultos, orações feitas a partir de uma pessoa que foi “treinada” para libertar, objetos ungidos e cursos de cura interior. Como a maldição hereditária é associada a problemas na vida da pessoa, são buscadas justificativas e explicações para que o problema ou pecado existam. Motivações que estão além da palavra revelada de Deus, violando o conceito do Sola Scriptura. Ao invés de algum pecado ou dificuldade ser atribuído à própria pessoa que o comete ou mesmo às dificuldades da vida que a própria Bíblia diz que teremos, associa-se à uma revelação sem provas para serem baseadas, exceto a superstição da ação demoníaca por “tipos” de demônios específicos. Sobre os rituais de maldição hereditária, José Laerton escreve que:
Aqui encontramos uma maneira simplista, mística, ilusória, e ineficiente de se enfrentar problemas causados por pecado. Essa é uma fantasiosa vitória sobre o pecado. A fórmula correta de vitória sobre o pecado é arrependimento contínuo que conduz a uma vida de piedade caracterizada por temor a Deus, desejo de Deus e amor a Deus, ou seja, um sincero e humilde cultivo da santidade na dependência do Espírito Santo e obediência da Bíblia.
Conforme pesquisei, vários rituais e crenças relacionadas a maldição hereditária (seja ela proveniente de pessoas da família, objetos ou imóveis) está diretamente associada com a falsa Teologia da Prosperidade, onde o sofrimento e os problemas são causados por demônios e o fato de algo constantemente não dar certo na vida de um crente e ele ter muito sofrimento é consequência do pecado de alguém, alguma maldição ou falta de fé da pessoa. Ignorando todos os ensinamentos das cartas de Paulo e Pedro. Outra associação interessante é que a base para estas crenças se encontra muito mais em outras religiões do que na igreja primitiva e na Bíblia. Encontramos associações de família e objetos com maldições no espiritismo, religiões africanas e crenças antigas orientais.

CONFISSÃO POSITIVA

A maioria destes rituais estão associados ao ato de determinar a libertação e determinar algo no mundo espiritual. Esta ideia de determinar algo é proveniente de uma visão teológica chamada Confissão Positiva. Wilson Castro, autor de um artigo online que ensina e crê na maldição hereditária, diz:
É nossa responsabilidade exercer autoridade sobre o reino das trevas em nossa vida, família, igreja e comunidade. Precisamos começar a reagir e ordenar ao ladrão que nos devolva sete vezes mais tudo aquilo que nos roubou. (Pv.6:30,31).
Temos logo no início da frase uma distorção do que é a autoridade que Cristo nos concedeu. A nossa autoridade está diretamente associada com a autoridade dada a Cristo e esta é dita, na Grande Comissão, como motivo para a pregação do evangelho. Não é nossa responsabilidade proteger os outros do reino das trevas e sim pregar a palavra. A Bíblia também ordena que resistamos o diabo e fujamos da imoralidade. Não há um aconselhamento para enfrentar e reagir ao Diabo e muito menos ordenar uma devolução “sete vezes maior”. O texto utilizado como base para esta afirmação está claramente distorcido, pois a referência no contexto original não é ao diabo e sim está em uma sequência de recomendações de sabedoria.

Um dos textos bíblicos que encontrei ser base para a Confissão Positiva é:
Como pensei, assim sucederá, e como determinei, assim se efetuará.
Isaías 14:24
Observando este texto assim, é possível extrair alguma relação com o determinar, contudo o que mencionei acima é apenas o trecho final do versículo. O texto na íntegra em seu contexto direto (versículo anterior e o posterior) é:
E farei dela uma possessão de ouriços e a lagoas de águas; e varrê-la-ei com vassoura de perdição, diz o Senhor dos Exércitos. O Senhor dos Exércitos jurou, dizendo: Como pensei, assim sucederá, e como determinei, assim se efetuará. Quebrantarei a Assíria na minha terra, e nas minhas montanhas a pisarei, para que o seu jugo se aparte deles e a sua carga se desvie dos seus ombros.
Isaías 14:23-25
Vemos que uma simples leitura é suficiente para entender que aquele que determina é Deus e o que Ele está determinando são palavras de condenação e julgamento. Não há a mínima relação com um determinar nosso para a nossa libertação do Diabo e de Espíritos Familiares.

Um exemplo de oração de quebra de maldição que Wilson Castro utilizou em seu artigo e que é bastante semelhante com o que é praticado em cursos de Cura Interior é:
Pai celestial, em concordância com o Espírito Santo e na autoridade que há no nome do Senhor Jesus, renuncio e cancelo, agora e para sempre, todo pacto ou consagração que, a qualquer tempo ou época da minha vida, eu (ou meus pais em meu lugar) tenha feito com o diabo, bem como quebro qualquer maldição que eu e meus descendentes tenhamos herdado dos meus pais ou antepassados, por pecados cometidos por eles ou encantamentos lançados contra eles. Quebro, também, toda maldição lançada contra mim e/ ou minha família. Por fim, desfaço todo bloqueio satânico da minha mente que me impede de compreender as verdades de Deus e ordeno que o inimigo me devolva sete vezes mais tudo aquilo que me roubou. No nome do Senhor Jesus Cristo, amém.
Temos várias palavras de ordem, como renuncio, cancelo, quebro, desfaço. Ao estudarmos o contexto geral da Bíblia para entendermos a Graça de Deus e a soberania ativa dEle na nossa salvação, vemos que utilizar deste tipo de palavra de ordem faz com que parte do crédito pela libertação venha ao nosso ato de determinar e exclui a libertação completa por iniciativa de Deus e pela Graça. Vemos nesta oração também uma rejeição a consagrações dos pais e antepassados, pecados, encantamentos, entre outros. Temos novamente uma desvalorização do sacrifício de Cristo, pois Ele não seria suficiente, sem o ato de determinar, para libertar completamente alguém do pecado.

Temos, então, a Confissão Positiva como uma das grandes heresias bíblicas pregadas e incentivadas atualmente e que é diretamente associada com a nossa vontade de ter alguma responsabilidade sobre nossa salvação e termos algum crédito, ou seja, não passa de mais uma forma de idolatria do homem ao tentar adorar a si mesmo e ter mérito nas suas bênçãos e salvação. Por este motivo que esta visão teológica se espalha com tanta facilidade, pois o homem constantemente deseja ter algum poder e participação na Graça, assumindo para si créditos que pertencem exclusivamente a Deus.

HERDANDO AS CONSEQUÊNCIAS

Em meio a tantas bobagens pregadas sobre a Maldição Hereditária que já foram mencionadas neste estudo, acho válido mencionar algumas coisas que são realmente verdade. Nós, seres-humanos, fomos criados para viver em comunidade e o relacionamento mais íntimo disso é o familiar e o mais íntimo ainda o conjugal. Somado a este fato, temos o Pecado Original, proveniente da Queda, que nos corrompeu de tal modo que nossa natureza deixou de desejar a Deus e passou a ser totalmente depravada. Quando colocamos vários seres humanos corrompidos pelo pecado para viver em comunidade, temos como consequência uma sociedade cada vez mais corrompida e afastada dos desígnios de Deus em Sua Palavra. A Bíblia mesmo fala sobre filhos matando os pais e pais matando os filhos.  Ao considerarmos todas essas coisas, é possível afirmar que herdamos as consequências dos pecados dos nossos pais, como por exemplo, um pai que bebe e bate em sua esposa traz grandes tristezas e traumas para a criança que assiste. Contudo, não se trata de uma relação demoníaca ou herança de espíritos familiares, e sim das consequências enormes do pecado na Criação e isso só vai ser feito novo na segunda vinda de Cristo. Os pecados dos pais têm também grande efeito sobre a cauterização da consciência dos filhos que assistem, então somos extremamente responsáveis sobre como cuidamos dos nossos filhos e como expressamos o arrependimento e o perdão concedidos por Deus.

Existem, sim, forças espirituais agindo neste mundo. Demônios e o Diabo são reais e mencionados várias vezes na Bíblia, contudo em nenhuma das vezes a menção é de forma supersticiosa como é visto na Maldição Hereditária. Vemos o Diabo influenciando a sociedade de diversas formas e se aproveitando da nossa tendência para o mal e incapacidade moral de buscar o bem absoluto, que é Deus. Me permito afirmar, inclusive, que a forma que o Diabo age na Maldição Hereditária não é com a herança de “espíritos familiares” e sim através da manipulação de pessoas com a pregação deste tipo de distorção da Palavra, que as afasta do verdadeiro entendimento do que é o arrependimento dado por Deus e do poder libertador e gratuito que Deus dá para os Seus filhos, que foram eleitos desde antes da fundação do mundo e adotados através do sacrifício de Jesus Cristo.

CRISTO COMO LIBERTADOR

Diante das consequências do pecado e forças espirituais, passamos a ter o entendimento do tamanho da nossa depravação. Como podemos ser livres do pecado se somos incapazes até de querer buscar a Deus?
Porque o amor de Cristo nos constrange, julgando nós assim: que, se um morreu por todos, logo todos morreram. E ele morreu por todos, para que os que vivem não vivam mais para si, mas para aquele que por eles morreu e ressuscitou. Assim que daqui por diante a ninguém conhecemos segundo a carne, e, ainda que também tenhamos conhecido Cristo segundo a carne, contudo agora já não o conhecemos deste modo. Assim que, se alguém está em Cristo, nova criatura é; as coisas velhas já passaram; eis que tudo se fez novo. E tudo isto provém de Deus, que nos reconciliou consigo mesmo por Jesus Cristo, e nos deu o ministério da reconciliação
2 Coríntios 5:14-18
Recebemos o maior presente possível: fomos reconciliados com Deus através de Jesus Cristo. Não bastasse apenas recebermos a salvação, Ele fez todas as coisas novas para nós ao trocar a nossa natureza. Não dependemos de determinar algo ou da crença em superstições para vivermos a nossa fé Cristã. Temos Jesus Cristo como Senhor e salvador e que certamente irá terminar a boa obra. Se ele começou uma obra na sua vida, certamente irá terminá-la. Não devemos buscar por revelações ou libertações que estão fora da Bíblia e sim buscarmos com todo o nosso coração vivermos conforme a verdade revelada, que é a Palavra de Deus e se concretiza em Cristo.

CONCLUSÃO

Antes de iniciar o estudo, eu já tinha em plena consciência que a pregação das maldições hereditárias era uma grande bobagem utilizada para manipular pessoas em igrejas que seguem algumas linhas dos movimentos carismáticos (Neopentecostalismo e Teologia da Prosperidade). Contudo acabei vendo que igrejas que, anteriormente eram sérias em sua teologia, começaram a absorver este tipo de ensinamento, tanto pelos resultados gerados com o aumento das pessoas na igreja quanto pela maior devoção sentimental dos seus membros às superstições. Devido a isto, resolvi pesquisar sobre este tema e me deparei com uma infindável coleção de versículos bíblicos retirados de seu contexto original e escancaradamente distorcidos. Distorções que acabam gerando efeitos enormes no entendimento da soberania de Deus e do tamanho do presente gracioso que Ele, através de seu Filho, nos deu.

Devido à enorme quantidade de variações e distorções bíblicas utilizadas para basear a crença na existência de maldições hereditárias, se tornou impossível mencionar e tratar cada uma delas sem que este estudo ficasse muito longo. Sugiro seriamente que os textos e vídeos das fontes deste artigo, assim como os textos bíblicos citados sejam seriamente estudados, caso resistam algumas dúvidas sobre a Maldição Hereditária. Sugiro também um sério estudo sobre soteriologia para um entendimento melhor da Graça e do Plano de Salvação, pois desse entendimento depende toda a nossa teologia e entendimento da Palavra de Deus. Para isso, claro, peça constantemente sabedoria e discernimento a Deus para que Ele o esteja guiando para o correto entendimento das escrituras.

Rogo para que Deus o abençoe e que proteja tanto a ti quanto a mim de distorcermos uma vírgula que seja da Sua palavra e de também sermos afetados pelas distorções feitas por outras pessoas.

FONTES




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